" MEU SONHO "
Difícil me é lidar com tal vontade
desperta por quem és no sonho dado;
pensara já me ter acostumado
mas não com fome em tanta intensidade!
Agora a sonho até mesmo acordado
por conta da paixão que ora me invade
e que me trouxe à carne essa ansiedade
de tê-la ao corpo meu acomodado.
Te anseio, ventre ao ventre, boca a boca,
gemendo e rebolando feito louca
tal qual te fosse, o gozo, o próprio ar
e, nesse meu pensar, te abraço nua
a despertar a inveja, até da lua,
o corpo afável teu que eu quero amar!
©Paulo Braga Silveira Junior - Janeiro/2019
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" INSÔNIA "
As horas se dispersam... Madrugada
e o sono não me acolhe um só instante!
Até o que sou, de mim, se faz distante
se como não me achasse por morada.
Vazio... Escuridão... Prossegue errante
o pensamento solto em revoada;
disperso entre o desejo e a carne armada
pra tal prazer disposta e suplicante.
Transpiro a fogo o mal dessa querência
sabendo que a vontade, por essência,
tem sede de afogar-se de carinho...
Não vens... Mais uma noite o tempo passa
e, sem do corpo teu, a dor me abraça...
Eu morro a falta tua aqui, sozinho!...
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" ESTÁS "
Pinguei palavras no papel pautado
se como um choro o fosse ali vertido;
o verbo derramou-se sem sentido
por entre os versos de um sofrer rimado!
Olhei o pranto posto e convertido
num velho e bom soneto, registrado
das lágrimas que houvera eu derramado
e com amor sincero revestido.
Falava ele de ti, dos teus encantos,
dos traços de beleza e graça, tantos
quais tantas são estrelas no infinito...
Então, não mais parei o dom de esteta
com que me denominam de poeta...
Achei-te na poesia em que hoje habito!
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" CÚMPLICE "
Te assanhas, pelo enlevo da poesia,
sentindo vir ao corpo esse desejo
se como os lábios meus sem qualquer pejo
viessem fomentar tua fantasia!...
As rimas te acarinham feito um beijo
que verso no teu ventre em agonia,
já pronto, a suplicar-me que essa orgia
fecunde, à tua vontade, o mesmo ensejo
e fazes, do soneto, os próprios dedos
livrando a carne frágil dos teus medos
ao conceder-te gozo, em livramento...
Percebo no teu ato consumado
que fazes-me teu cúmplice em pecado
ao menos, mesmo que, por pensamento!...
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" ACENO "
Não fora o nosso tempo; eis que a vontade
foi posta ao vento insano do futuro!...
Sobrou-nos do bom siso austero, duro,
a força horrível da veracidade.
Não era para ser. O que nos, puro,
batia ao coração na intensidade
tornou-se por cruel fatalidade
o medo, oculto em dor, que eu esconjuro.
Mais uma vez me parto e me abandono
feito um cachorro posto ao léu, sem dono,
lambendo a carne aberta ao sol, ferida...
Vais, tu, de mim distante a cada instante
e eu, da cena imposta, um figurante
aceno o adeus fatal da tua partida!...
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" FLOR DO CAMPO "
Desejo, esse segredo em nós colado,
se deu no instante breve de um sorriso
e, desde então, nesse querer preciso
te vejo com o olhar apaixonado!...
Anelo conhecer-te mais, por isso
te chamo, busco, insisto no recado
que a quero em minha cama, do meu lado,
pra descobrir como é teu paraíso.
Ousada seja a tua decisão
de bem se aventurar nessa paixão
que nos aquece o sonho e instiga a fome...
Pequena flor do campo, bem-me-quer,
é grande em ti, e bela, essa mulher
que de desejos fartos me consome!...
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" SEQUELAS "
Que falta faz-me na'lma o teu afago
e o aconchego doce de um carinho
a ser trocado a sós em nosso ninho
no amor, feito a desejo, que ainda trago!
Até as mordidas dadas, de cantinho,
num beijo aos lábios posto; ainda vago
recordações de tardes, beira lago,
dois cães brincando as pedras do caminho.
Me falta o riso dado; a luz da lua
a iluminar-te ao leito posta, nua;
teu corpo a receber do meu com fome...
Eu sinto a febre insana da vontade;
da sede do querer, a tempestade...
O mal de ainda te amar que me consome!
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" À TUA MANEIRA "
Chegastes me enredando com ternura
e me envolvendo todo em sonho farto.
Agora, no silencio do meu quarto,
desejo pôs-me em pé nessa aventura!...
De anseios me atormento, quase enfarto
gemendo essa vontade de ventura
e, sem malícia alguma e de alma pura,
atrás dos braços teus, sem medos, parto.
Afrontas meu querer, sem dó nem pena,
enquanto a tua nudez pra mim encena
que a fome contingente é verdadeira...
Tu fazes o que queres, sim... Me usas
e deste meu sofrer de amor, abusas
só pra me ter em mãos à tua maneira!
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" ALERTA "
Que fujas, pois, de mim enquanto há chance
e o tempo não se deu por consumado
porquanto que o desejo em nós sonhado
te pode machucar ao fim do lance!...
Resista aos meus apelos que é provado
estar, o siso imposto, ao teu alcance
e antes que meu corpo ao teu se entrance
desvies que, o caminho, é arriscado.
Vaciles e te envolvo em sedução,
te assanho, te acarinho e de paixão
te faço arfar no leito intenso gozo...
Despertes deste sonho em fantasia
que o fruto exposto engana e por magia
o teu pecado faz ser prazeroso!
©Paulo Braga Silveira Junior - Janeiro/2019
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" REDIMIDOS "
Ensina-me a te ler o pensamento;
as coisas que tu guardas escondidas
quer sejam santas, outras, pervertidas
e as que te dão saudade ou livramento!...
Das emoções, por vezes já, sentidas
permita ler-te a alma, o sentimento,
descortinando a paz e o sofrimento
e, da paixão, as chamas incontidas...
Permita-me te ler o ventre, os seios,
das curvas todas meios, entremeios,
e decifrar suspiros teus, gemidos
se como a recitar toda a poesia
que, pelo unir dos corpos na euforia,
nos deixa, de pecados, redimidos!...
©Paulo Braga Silveira Junior - Janeiro/2019
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" GRATIDÃO "
Estranho eu era a ti, batendo à porta;
um conterrâneo, apenas, com saudade
tentando aliviar da faculdade
o peso em solidão que a alma lhe corta!
Me recebeste em braços de bondade
com todo o afeto que teu ser comporta
e, na lembrança afável que me aporta,
me ofereceste a destra de amizade.
Traçou tantos caminhos o destino;
se pôs no tempo feito um peregrino
mas nunca o nó desfez desta união
e eu te reencontro agora, anos mais tarde,
contanto ao peito meu ainda me arde,
por tal afeto, intensa gratidão
©Paulo Braga Silveira Junior - Janeiro/2019