" RENOVO "
Aos olhos quantas vezes pranto veio
inesperadamente e sem motivo
pra ser de algum momento o lenitivo
chegando assim, de pronto e sem rodeio!...
Um choro incontrolado, a sós, furtivo,
liberto de censura ou de receio,
que chega para ser, da calma, um meio
de me propor consolo compassivo.
Chorei-te muitas noites sem razão,
apenas por lembrar-te na paixão
que o inconsciente fez voltar de novo...
Desejo deste amor jamais ausente
que surpreendentemente ainda presente
renasce tal em flor, feito um renovo!
©Paulo Braga Silveira Junior - Novembro/2018
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" BRILHO DE FACA "
O amor tem lá seus riscos, seu perigo,
e corta fundo n'alma o peito incauto...
Nos chega às vezes como um sobressalto
trazendo o riso e o pranto, então, consigo!...
Sou eu, de uma mulher, omisso e falto,
distante do seu peito e seu abrigo;
eu tento compreendê-la e não consigo
pois, dos segredos seus, não vejo o arauto
e o que já foi amor, forte paixão,
tornou-se, de repente, uma aversão
sem nada de palpável mais, sequer...
Há de sangrar-me o peito inconsolado
se, no futuro, a dor do meu passado
voltar-me num semblante de Mulher!
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" A VER ESTRELAS "
Daí, pro céu, tu olhas estrelado
e te recordas plena de emoção
o quanto nos banhamos de paixão
no amor que, tenro, foi-nos derramado!...
Eu cá, também o olho na ilusão
de que jamais de ti fui separado
podendo até sentir-te do meu lado
tamanha é tua presença ao coração
e o céu chorando estrelas junto à lua
te vê, no teu quintal e eu pela rua,
tristonho de encontrar-nos tão sozinhos...
Quem sabe um amanhã na madrugada
encontre-nos em noite enluarada
de novo a ver estrelas, nus, juntinhos...
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" DÚVIDA "
A música levou-me à noite outrora...
Carinho, um carro e dois apaixonados
se como que, de amor, desesperados
aos beijos, por reféns da própria história!...
Só nós, pelo luar iluminados
fugindo lá de onde a angústia mora
juntamos as tristezas mundo afora,
do que de bom em nós, enamorados.
Bastava-nos o olhar, o toque, o riso
naquele encontro a dois, tão sem juízo,
no meio ao nada e em plena madrugada...
Chorei à mesa ouvindo a melodia...
Por onde foi que eu te perdi um dia
se fostes (e ainda és) a minha amada?!...
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" EM LÁGRIMAS "
Molhou-me o rosto a chuva carinhosa
feito um suave beijo de tristeza
porque a manhã marcada de incerteza
achou por bem nascer assim: Manhosa!...
Sutil, se como um toque de leveza
em meio a via sacra dolorosa,
na lágrima na face um brilho posa
qual fosse salva em prata sobre a mesa...
Meu pranto misturou-se à chuva fina
num recordar de amor por ti, menina,
e me banhei na doce e sã lembrança
dos nossos corpos nus por sobre a cama
tomados de paixão em viva chama
bailando o gozo, a dois, da nossa dança!!...
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" DESPERTAR "
O corpo dela ainda traz marcado
as cicatrizes feitas por maldade
na espúria tão grotesca e sem piedade
daquele que a feriu em seu passado!...
Clamou-lhe a chama que o desejo invade
e se arriscou sobre o lençol vincado;
o pensamento por temor marcado
rendeu-se à fome e ao fim da castidade...
Arfou, gemeu, sangrou de novo o gozo
ao ver nascer-lhe o instante prazeroso
nos braços de outro, como a carne o quer,
e se esgotou na noite inesperada
de orgasmos consumida, em paz, amada,
pra despertar bem mais, em sim, Mulher!!...
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" RISCO "
Me dizes num olhar teu pensamento
ou eu que o interpreto como o anseio?
Eu vejo tu desnuda, sem receio,
no teu desejo afim de envolvimento!...
É mesmo assim da forma como o leio
ou erro no julgar teu sentimento?
Te sinto exposta a mim, por um momento,
num outro é indecisão que em ti tateio!...
Ah... Se esse olhar disser o que imagino
nem todas as barreiras do destino
me impedirão de desfrutar-te o gosto...
Há fome nestes olhos de felina
e se tu queres mesmo, então, menina
aceito o risco neste olhar proposto!...
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" ARAUTOS "
Ó, filhos da poesia, ao céus erguei
olhares contundentes, como um brado,
e celebrai o afeto vos legado
no mar do vosso dom. Louvor, rendei!
O tempo deu-se a vós por consumado
a sucumbir no instante em própria lei;
juntai os menestréis da vossa grei
num grito de vitória emocionado.
Do leito enternecido dos amantes,
das putas consolando almas errantes,
dos laços dos abraços de quem ama
sois vós a voz que clama no deserto
trazendo aos corações o amor desperto
a transbordar paixões em viva chama!...
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" VÍCIO "
Bebi-te em goles fartos, vorazmente,
como um sedento o fosse no deserto;
tomei-te com delícia, a descoberto,
disposto a saciar-me plenamente!...
Em cada trago dado, o amor liberto
a se fazer de louco e delinquente
tornava o clima aceso, em nós, mais quente
por quanto uma paixão se pôs por perto.
Embriaguei-me até de madrugada
deixando-te feliz e saciada
sobre os lençóis macios do teu leito...
Voltar, por certo, eu hei à tua fonte
tão só de novo a sede me desponte
e tu me acolhas plena no teu peito!
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" O TENHO "
Sonhei um grande amor e o deu-me, a vida,
bem como eu desejei no coração!...
Chegou-me carregado de paixão
no conteúdo e forma pretendida.
Eu tenho um grande amor feito à emoção
que n'alma definiu-se a escolhida;
a dama que, na estrada requerida,
se fez por companheira em comunhão.
Há de seguir comigo em mim presente
o amor que me chegou tão de repente
a transformar meu ser com seu carinho
e o levarei guardado e protegido
como o meu bem maior já recebido
qualquer seja o destino em meu caminho!
©Paulo Braga Silveira Junior - Novembro/2018