" SEM DONO "
Hoje o silêncio me chamou por companhia
e dei-lhe voz dentro de mim sem questionar...
Me fiz de estrelas em quietude sobre o mar
pois que no enredo desta paz meu ser se fia.
Tornei-me, então, silente luz como o bailar
da branca lua a despontar ao fim do dia
cujo esplendor no espelho d'água se irradia
trazendo, à noite, inspirações ao suspirar!
Fui como o triste grito preso na garganta
que sob a dor no peito aflito se agiganta...
Igual o olhar desesperado do abandono.
Silêncio farto, companheiro... Dei-lhe a mão
anunciando estar perdido o coração
que, igual ao meu, guarda um amor, tal qual, sem dono!...
Paulo Braga Silveira Junior - Novembro/2019
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" CONFUSO "
Estou confuso, aflito e bagunçado
depois de um vendaval de sentimentos...
O caos se fez na força atroz dos ventos
trazidos do viver acumulado!...
Meus olhos, pro que belo, em tudo atentos
buscaram por imagens do passado
e descobriram nua aqui ao meu lado
aquela que me invade os pensamentos!...
Ela é mulher intensa, um furacão
que destruiu de vez meu coração
ao se entregar voraz de corpo e alma...
Somente é dela o riso que me encanta,
a carne adulta, puta e às vezes santa,
o ventre que, todo o meu ser, acalma!...
Paulo Braga Silveira Junior - Novembro/2019
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" CAÇA "
A caça se descuida um só momento
não vendo o aproximar do predador
que a espreita com o olhar de caçador
mantendo o ardil secreto ao pensamento!...
Ele observa os gestos, sem pudor
do que traçou por meta e por intento
à espera de se impor, cruel, sedento,
pra devorar-lhe a carne com ardor.
Avança sem parar, se põe por cima
traçando, da refém no abate, a sina
sem chances para a fuga ou pra defesa...
No pega, prende as garras, mete a boca,
e a preia uiva e geme feito louca
já satisfeita em ser-lhe a tenra presa!...
Paulo Braga Silveira Junior - Novembro/2019
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" FELINA "
Ela é gatinha de penugem clara,
tem olhos verdes plenos de esperança
e, sabe Deus, onde esse olhar alcança;
talvez bem mais do que eu imaginara!...
Pois que bem cedo, quando o dia avança
é delicada e de uma graça rara,
mas a noitinha solta a sua tara
e igual pantera ao corpo meu se entrança.
Risca e rabisca a minha pele, agarra,
fere-me a carne ao me fincar sua garra,
mia e ronrona ao receber carinho...
Corro o perigo vindo da felina
e sobre o peito arfante da menina
me encaixo ao ventre seu e ali me aninho!
Paulo Braga Silveira Junior - Novembro/2019
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" AMADA "
Tu és a rima certa, o verso exato
compondo esse meu mundo de poesia...
Aquele toque, sonho e fantasia
aposto ao pensamento mais sensato!
Deixaste-me sem guarda... Quem diria!
Propenso a ler-te inteira só no tato
e te jantar completa, sem recato,
na mais perfeita paz de uma euforia.
Me ponho a versejar-te na paixão
dos corpos numa mesma sensação
a dividir prazer na madrugada...
És, tu, todo um poema de querência
da carne que perdeu sua inocência
arfando o bem maior de ser amada!
Paulo Braga Silveira Junior - Novembro/2019
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" ABELHA "
Rainha abelha sobre os céus liberta
me leva neste voo pela campina
nas asas de quem és, mulher-menina,
pois que o querer te fez pro amor desperta!...
Me dê da tua dança, bailarina,
que a chama da vontade nos conserta
e, quando vens a mim sem véu, aberta,
teu corpo inteiro me seduz, fascina...
Busca do pólen que te nutre n'alma,
que te sacia, te alimenta e acalma...
Nos lábios teus, o fruto saboroso.
Dá-me de ti, no instante dividido,
deste teu mel, por tal querer, vertido
no derramar do teu intenso gozo!...
Paulo Braga Silveira Junior - Novembro/2019
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" TEMPO PRA DEUS "
Usei meu tempo para o aprendizado,
para o trabalho que era-me importante,
me dediquei a amigos, e bastante
bem como, ao que laser, fui devotado.
Me fiz, das emoções da carne, amante
e homem por mulher apaixonado...
Amei aquela a quem trouxe ao meu lado
pra ser-me a companheira estrada adiante!
Fiz da poesia o ar que hoje respiro
e sobre a rima a versejar me atiro
tal como fosse vida aos dias meus...
Dei tempo ao tempo dado... Que loucura!
Eu hoje morro n'alma sem da cura
que tem quem tempo tem aos pés de Deus!...
Paulo Braga Silveira Junior - Novembro/2019
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" CULPADO "
Eis que ninguém se faz por companhia;
sou eu e um quarto em plena solidão!...
Ninguém presente aqui na imensidão
das horas nas paredes do meu dia.
Não há sequer alguém que estenda a mão,
nem filhos, nem mulher que me sorria,
somente este vazio em primazia
a me ocupar de vez o coração.
Não tenho nem visitas da amizade
sequer pra se cumprir formalidade...
Só Deus se faz presente aqui de perto!
Plantei a ingratidão... Colho a tristeza.
Só eu, somente eu, tenho a certeza
que tem por culpa estar neste deserto!...
Paulo Braga Silveira Junior - Novembro/2019
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" SIMPLES "
De tudo que era simples, com saudade
me ponho a relembrar no coração
tentando reviver-lhes a emoção
e dar-lhes, dentro em mim, de prioridade!...
O riso, o abraço, o repartir do pão
com meus amigos, tudo em igualdade;
da prosa solta, a singularidade...
O olhar, um dia, cheio de paixão...
De dois bassês revi a parceria;
a chuva, à tarde, plena de poesia...
Lembrei como era bom viver a vida!...
Que esse menino em mim volte a sonhar
tal como outrora o fez sob o luar
sem ter sua alma aflita a ressentida!...
Paulo Braga Silveira Junior - Novembro/2019
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" A ELE "
A vida nos foi dada de presente;
ninguém pra dela ter aqui fez nada...
O recebe-la é benção consumada
do qual não pode estar-se descontente.
Então, quando se põe o pé na estrada
qual é o objetivo, pois, da gente?
Vivemos só pra ser feliz, contente,
ou algo mais se pede da jornada!
Eu creio que é preciso gratidão
a quem nos deu a vida em profusão...
Viver, como Ele quer, a nossa história
e tudo o que fizermos nesta vida
já sendo, a mesma, graça imerecida
Lhe seja por louvor, e honra, e glória!...
Paulo Braga Silveira Junior - Novembro/2019